No final dos anos 1990, com a criação dos primeiros repositórios de informação de acesso aberto (como o arXiv) e o surgimento da Open Archives Initiative (OAI), as instituições em nível mundial iniciaram um processo de disseminação de conteúdos acadêmicos e científicos em formato digital através da Internet, ampliando o escopo original do intercâmbio de metadados que havia sido iniciado no final dos anos 1960 com a International Standard Bibliographic Description – ISBD (Descrição Bibliográfica Internacional Normalizada). A ISBD objetivava criar um padrão de catalogação mundialmente compatível, para promover o intercâmbio internacional de registros bibliográficos, seja entre agências nacionais e internacionais, assim como entre bibliotecas e a comunidade. Mas enquanto a ISBD ficava restrita à representação descritiva (metadados), as unidades de informação que passam então a criar seus repositórios institucionais começaram a perceber a necessidade de compartilhar o acesso também aos conteúdos armazenados nos repositórios, aos documentos em si, já que além de hospedar e disponibilizar, o principal objetivo é dar visibilidade à produção intelectual da Instituição, estimulando a ampla circulação de conhecimento.
A partir desse contexto, é então criado o Open Archives Initiative Protocol for Metadata Harvesting (OAI-PMH) pela OAI como uma solução de interoperabilidade que visa proporcionar disseminação eficiente do conteúdo acadêmico e científico produzido nas instituições, não apenas o registro em si como propunha a ISBD, mas incluindo a URL para acesso ao documento na integra, os arquivos com conteúdo em formato digital. Já nesse momento foram as bibliotecas as responsáveis pelos estudos, avaliação e implementação - com o apoio das equipes de tecnologia de informação (TI), das plataformas de repositórios institucionais abertos (como o DSPACE, Omeka, Greenstone) e dos sistemas de editoração de revistas de acesso aberto (como OJS criado em 2001, chamado de "SEER" no Brasil). Segundo dados do Registry of Open Access Repositories - ROAR atualmente existem no Brasil 185 repositórios. Quanto ao OJS, em estudo realizado por Milton Shintaku, em 2013 já havia mais de 100 portais de revistas com OJS/SEER, o que segundo o memo, revela que a utilização de portais se apresenta como uma tendência no meio de divulgação científica e administração de periódicos pelas instituições brasileiras.
Quando falamos de catálogos bibliográficos e gestão de serviços aos usuários nas bibliotecas, também falamos de softwares livres e código aberto. Em 1985 surge o ISIS, amplamente usado no Brasil, e nos anos 2000 surgem os primeiros softwares livres no país, como o PHL do Elysio Oliveira (2001), GNUTECA da SOLIS (2002), o BIBLIVRE da SABIN (2005). O software Micro CDS/ISIS da UNESCO (1985) - um software de catalogação (mais do que de automação/gestão) - revolucionou a maneira como as bibliotecas criavam catálogos e bases de dados bibliográficas adotando um software livre e gratuito. Diversos cursos, eventos e artigos foram publicados e ajudaram a difundir o ISIS. Ainda na fase que havia apenas a versão ISIS para MS-DOS, pessoalmente pude participar de uma catalogação cooperativa nacional de jurisprudência em meados dos anos 1990, na qual fazíamos catalogação distribuída em todo país, os registros então eram exportados em disquetes, enviados por correio e depois a base nacional era unificada e redistribuída para as bibliotecas cooperantes, em novos disquetes. Esse mesmo esforço de cooperação continua nos dias de hoje de diversas maneiras, com uma importante evolução: não apenas o software é livre (gratuito), mas também possui código fonte aberto. Essa importante mudança traz novas possibilidades de cooperação para as bibliotecas. Assim, Bibliotecários podem compartilhar sua visão de como a tecnologia de biblioteca deve se parecer e evoluir: a proposta é atuar como um especialista no assunto em qualquer área de fluxos de trabalho de biblioteca; Desenvolvedores (equipe de tecnologia da informação) podem ajudar a desenvolver a plataforma de serviços de biblioteca criando, estendendo ou integrando aplicativos em colaboração com especialistas no assunto; Organizações e provedores de serviços podem ajudar a contribuir com o projeto melhorando os aplicativos ou oferecendo hospedagem e serviços profissionais, que podem ser customizações, capacitações ou mesmo integrações com outros sistemas para interoperabilidade. A ideia é promover uma colaboração aberta para que todos juntos possam evoluir, no contexto das suas necessidades: nesse modelo é a biblioteca que define as características do software, para evoluir sempre. O FOLIO, apoiado pela EBSCO, é um exemplo de software de código aberto para bibliotecas que opera nessa perspectiva: O FOLIO é uma plataforma de serviços de biblioteca, criado como um projeto colaborativo e de código aberto que visa reimaginar o software de biblioteca por meio de uma colaboração única de bibliotecas, desenvolvedores e fornecedores. Ele vai além do sistema de gestão de biblioteca tradicional para um novo paradigma, onde os aplicativos são construídos e sempre atualizados em uma plataforma aberta, fornecendo às bibliotecas mais opções e entregando, de maneira constante, novos serviços aos usuários. A plataforma FOLIO inclui a funcionalidade central encontrada nos sistemas de gestão de bibliotecas atuais, e além disso é extensível, permitindo que as bibliotecas atendam às necessidades em constante mudança.
Até o final da década passada ainda estávamos, como bibliotecários, muito enfocados somente em Open Access – com diversas ações que visam garantir a disponibilização de conteúdos criados em nossas instituições em acesso aberto, através principalmente da criação de repositórios e portais de revistas abertas. Apesar de ter ocorrido adoção dessas plataformas ao longo dos últimos anos, ela ainda está muito centrada em universidades e, portanto, ainda há muito espaço para sua adoção em bibliotecas de outros tipos, como as escolares, públicas e de organizações culturais. Todas as organizações criam seus próprios conteúdos. Quando falamos em "conteúdo criado" pode abranger textos, músicas, vídeos, fotografias, objetos educacionais e muitos outros, que podem tanto comportar documentos e conteúdos de suporte ao ensino e pesquisa, como também documentos administrativos, de memória cultural, arte e muito mais, que precisam ser catalogados e preservados.
Mas “aberto” é muito mais que acesso aberto. Recentemente temos visto diversos novos movimentos e iniciativas sobre perspectivas relacionadas ao tema do aberto, sendo muitas de las voltadas ao Open Science Movement (Movimento da Ciência Aberta), como o OpenAIRE, um projeto europeu de apoio à Ciência Aberta que congrega especialistas em Ciência Aberta e promove uma infraestrutura técnica que coleta resultados de pesquisa de provedores de dados conectados. Segundo a OpenAIRE (AIRE, 2022), "Open Science descreve um movimento contínuo na forma como a pesquisa é realizada, os pesquisadores colaboram, o conhecimento é compartilhado e a ciência é organizada.". Podemos perceber o grande potencial que perspectivas abertas trazem para a comunidade através do Portal FOSTER - uma plataforma de e-learning que reúne os melhores recursos de treinamento dirigidos a quem precisa saber mais sobre Open Science - nos mostra uma árvore taxonômica que classifica as diferentes áreas nas quais a ciência aberta se subdivide (https://www.fosteropenscience.eu/foster-taxonomy/open-science-definition). O primeiro nível de subdivisão inclui: acesso aberto, dados abertos, pesquisa reproduzível aberta, avaliação aberta, políticas de ciência aberta e ferramentas de ciência aberta. Apenas partindo dos nomes das áreas já podemos perceber a diversidade de temas possíveis de atuação das bibliotecas nas perspectivas abertas e as capacidades que temos de colaboração.
Pensar em iniciativas sobre o tema “aberto” historicamente tem a participação e engajamento da comunidade que as desenvolvem e que também se beneficiam delas. Justamente nesse sentido, a EBSCO em parceria com as instituições de ensino e pesquisa criaram a EBSCO Community. Os focos da Comunidade são em diferentes áreas do tema aberto, desde o acesso aberto até código aberto, infraestrutura aberta e mais. O objetivo da comunidade é reunir bibliotecários de todo o mundo para compartilhar suas experiências e percepções nas áreas do tema aberto. A proposta da EBSCO Community é oferecer um espaço para DISCUTIR desafios chave que as bibliotecas estão enfrentando atualmente sobre áreas relacionadas ao tema do aberto e transformar esses desafios em ideias viáveis; Criar um ciclo de FEEDBACK com a EBSCO, entre bibliotecários e com outros parceiros da indústria; Melhorar a COLABORAÇÃO e ter a oportunidade de trocar ideias e aprender uns com os outros; e aumentar o ENGAJAMENTO entre a comunidade bibliotecária, organizações parceiras e a EBSCO. Nós convidamos você a explorar a Comunidade, se envolver com o conteúdo, interagir uns com os outros e fornecer feedback sobre a estrutura, conteúdo, coisas que você gosta e coisas que você acha que poderíamos fazer melhor.
Acreditamos que a Comunidade proporcionará uma oportunidade não apenas de discutir abertura, mas também criar relacionamentos, aumentar a cooperação e buscar soluções para as necessidades atuais e futuras no mundo acadêmico e científico.
Venha participar das discussões na Comunidade Aberta da EBSCO. As futuras contribuições da EBSCO se concentrarão em tópicos como a evolução do acesso aberto: identificar como o valor tradicional e as novas abordagens evoluem juntos, o impacto de mandatos e políticas na publicação acadêmica e muito mais. Nosso objetivo é ajudar a facilitar a mudança positiva. Sua contribuição e envolvimento são necessários e muito bem-vindos! Se você quiser contribuir com a comunidade e enviar artigos ou realizar um painel, entre em contato com Meghan Tylec em mtylec@ebsco.com para obter mais informações.
Referências
SHINTAKU, Milton et al. Portais institucionais de revistas no Brasil implementadas com SEER/OJS. In: ENCONTRO NACIONAL DE EDITORES CIENTÍFICOS, 14., 2013, São Paulo. Anais [...] . São Paulo: Abec, 2013. p. 1-5. Disponível em: https://ridi.ibict.br/handle/123456789/1069 . Acesso em 19 de novembro de 2021.
OPEN AIRE. What is open science. 2022. Disponível em: https://www.openaire.eu/what-is-open-science. Acesso em 12 de janeiro de 2022.
Photo by Bailey Zindel on Unsplash
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